A caminho do seu local de trabalho, alguém passa pelo multibanco, marca R$ 40 para extração, mas se surpreende que a máquina lhe dê R$ 100.
Ele sorri ao receber o cheque. Ele saca todo o dinheiro que puder, ciente de que, desde que alguém perdeu as contas, por cada 100 reais que recebe, o saldo de sua conta bancária será reduzido em 60 reais.
Ele notifica um membro da família de sua descoberta para ir, e quando chega ao escritório, ele também entusiasma seus colegas. Vários deles vão ao “caixa mágico”, quase eufóricos, com o cartão na mão.
O fato realmente aconteceu há alguns anos, e para alguns se tornou um convite à reflexão: o que leva uma pessoa “comum”, que não passa da vida pensando em se beneficiar economicamente à custa de algo errado, a adotar um comportamento como o descrito?
O que empurra a dar como exemplo um dos casos habituais de mentir em uma declaração de danos para sobrecarregar uma seguradora?
Porque é que as pessoas são levadas a cometer uma fraude?
Um criminologista chamado DonaldCressey desenvolveu, na década de 1960, sua teoria do “triângulo da fraude”, que identifica os fatores que entram em jogo quando as pessoas são confrontadas com a tentação.
Esses três elementos são: incentivo (colocar dinheiro no bolso), oportunidade (no exemplo, o erro na carga do caixa) e racionalização, que é a busca interna de uma justificativa (como pensar que o banco supostamente prejudicado, por exemplo, é mais poderoso que um).
No caso de uma declaração falsa ou exagerada a uma seguradora, alguém pode justificar-se pensando que pagou durante anos sem receber nada em troca (na ausência de sinistros). Essa conclusão surgiu de um estudo conduzido por uma organização antifraude dos EUA.
Uma condição que deve ser cumprida neste caso, claro, é a mentira. O economista comportamental Martin Tetaz lembra que as pesquisas dos economistas da Valley, Moag e Bazerman mostram como é muito mais fácil trapacear quando não se está diante de uma pessoa.
O teste foi feito com vendedores que mentiram às pessoas: no encontro pessoal, 7% conseguiram enganar, mas a taxa chegou a 33% no contato escrito e 55% na conversa telefônica.
Poderá isto levar-nos a pensar que a pessoa referida no primeiro parágrafo teria avisado o funcionário do banco se este tivesse cometido um erro com os bilhetes entregues em mão? Pode ser.
De qualquer forma, o final dessa história é encorajador: vários dos que tinham feito o seu “lucro” no caixa eletrônico se arrependeram e voltaram para o banco.
Sem máquinas envolvidas, devolveram o dinheiro, deixando-o nas mãos de outro ser humano. Talvez o mesmo que cometeu o erro.
Se pensarmos bem, cometer uma fraude é uma questão muito mais complexa do que aquilo que a grande maioria das pessoas pode pensar! Mas, verdade se diga, nenhum de nós pode dizer logo à partida que nunca irá cometer uma fraude!